segunda-feira, 7 de junho de 2010

Viagens... lugares... - Amanhecer na Asa Norte - Brasília - Brasil


Acordando em Brasília, encharcada de cor-de-rosa, alaranjados e alguns azuis. Lembrei do meu pé na terra vermelha enquanto caminhava pelas ruas da cidade... Brasília tem tom quente do início ao fim do dia. No Rio Paranoá o dourado da luz se aninha, morada de minutos, tranquilo... Permito me perder pela imagem, início de dia assim é presente que se recebe com largo sorriso. Respiro e me sinto conectado a tudo! Me permito evocar Carlos, meu caríssimo poeta de todas as horas, e dizer entre suspiros: "Eita vida besta meu deus..."

sábado, 3 de abril de 2010

Viagens... lugares... - Malecon - Havana - Cuba

      
A noite cai aos poucos, é inverno, mas não se nota... o céu azul vai tomando os tons de rosa para si. Passeio com minha máquina fotográfica na ânsia de capturar todos os momentos possíveis,  a Avenida Malecon está cheia de pessoas, casais, crianças e pais, cubanos e turistas, todos passeiam ao seu pôr-do-sol. De repente, uma música vem de dentro de uma casa bonita, um conservatório? Não sei, mas a entrada é gratuita... É o final da apresentação e como se adivinhassem começam a tocar uma música brasileira: bossa nova! Me sinto distante, me sinto em casa, me sinto ali... A orquestra termina de tocar...

Saio por entre as pessoas que estavam na apresentação, volto ao Malecon, a noite, enfim, escureceu. Continuo o passeio pela velha Havana, com as casas antigas a me espreitar pela esquerda e o Malecon a me refrescar pela direita, só se sabe que é inverno por causa do mar agitado e de certo tom frio no vento... brinco de pega-pega com as ondas que escapam do muro... Há dias em que elas podem ser bastante violentas, banham as ruas da cidade... Do outro lado, casas mal conservadas apresentam seu charme, a cidade é romântica, é exótica, é poética, é melodiosa e é tudo ao mesmo tempo. 

O hotel é em frente ao Malecon e do quarto posso ver seu movimento, posso acordar com sua música e ver seus pescadores se jogarem ao acaso: seria dia de peixe? Vejo ao longe a alegria se espalhar pelas charretes que passam pela Avenida, pelos casais que andam de mãos dadas, pelos pais que passeiam com seus filhos,  pelos turistas que visitam Havana pela primeira, segunda, terceira ou mais vezes, e vejo a alegria se espalhar pela aprendiz de fotógrafa que tenta apreender na tela o fugaz...

sexta-feira, 2 de abril de 2010

A Cuca vai pegar: Crônicas do funcionalismo público II ou da Burra Cracia

Levei dois anos e meio para entregar a dissertação e dar entrada no diploma. Eu sei, isso é lamentável, assumo a ação terrível que é esse atraso! Mas então, os tais escritos ficaram, nas férias, esperando a reunião de colegiado, uma vez aceito, subiu para a Secretária G., para assim começar o processo de confecção do papelzinho que atestará a minha maestria (a questão é que em alguns lugares o tal do papel é mais importante que a competência...).
Um dia, estava tranquila em casa e recebi o telefonema da funcionária da Secretaria G. dizendo que havia um problema no meu processo e eu prontamente fui tentar entender e resolver. O prédio da Secretária G. é novíssimo, cheio de vidros espelhados, numa arquitetura antiga. Escolheram bem a cor e as formas e eu estava mesmo querendo entrar para ver como estavam as coisas por dentro... 

A simpática funcionária do setor de pós me explicou tintin por tintin a questão: é que eu passei um semestre a mais que o permitido e teria que, dois anos e meio depois e com todos os requisitos cumpridos, pedir a Câmara de... para aceitar a dilatação do prazo máximo regulamentar do tal do curso... Ufa...  Era algo aparentemente simples... Então vamos lá, saí por uma porta entrei em outra , ou seja, o setor de protocolo , para dar entrada na solicitação e anexar os mil papéis no processo... Senha 82... Ah, tá, está no 53... Sai, atravessei a rua, tirei xerox de outros documentos, subi as escadas e dei entrada no meu diploma de especialização depois de ter esperado mais três pessoas serem atendidas... Voltei pro Protocolo... Ah tá, faltam 15 pessoas... Sentar e esperar... esperar... esperar...

"Tantan" Aparece luminoso o número 82, é a minha vez... Explico o caso para a funcionária, em todos os detalhes...

- Eu não sei resolver isso não, vou passar para Liliana pois ela deve saber resolver, ela trabalhou com esses assuntos de pós-graduação...

Fui para Liliana, contei mais uma vez o que aconteceu e digo que tenho que fazer a solicitação à CÂMARA DE...

-Já estou vendo que tem mais um caso aqui para resolver, esses outros dois semestres têm que ser julgados pela pós-graduação da Faculdade de...

Olho os dois semestres e vejo que está lá, todo certinho, explico que isso já passou pela pós-graduação, que isso já está certo e que eu preciso, conforme disse a funcionária da pós-graduação, da faculdade de... e do setor de pós-graduação desta Secretaria G., ENCAMINHAR PARA A CÂMARA DE... Ela preenche rápido os papéis, do canto do olho eu vejo ela selecionar: FACULDADE DE ... Ai meu Deus!!!

-Pronto, esse é o número do processo e você pode acompanhar pelo site...

-Ahhh obrigada, você colocou para que seja encaminhada para a CÂMARA DE..., não foi????

-(ela respira) Claro que não, tem que ir para a Faculdade de..., ela que vai julgar e então o processo volta para o setor de pós-graduação...

-Senhora, a pós-graduação da Faculdade de... já julgou, enviou aqui para a Secretaria G., e a funcionária da Secretaria G. que cuida dos assuntos de pós-graduação, me disse que eu tenho que enviar para a CÂMARA DE... até a funcionária da pós da Faculdade de... me disse que o processo ia ter que passar pela CÂMARA DE... por conta da matrícula desse referido ano!

-OLHE SÓ, A FUNCIONÁRIA DAQUI DA SECRETARIA G., DO SETOR DE PÓS-GRADUAÇÃO, CUIDA APENAS DO REGISTRO... ELA NÃO SABE DESSES ENCAMINHAMENTOS!! NÃO É MESMO??? 

-Eu não sei...  só sei o que ela me disse...

-COMO NÃO SABE?????????? VOCÊ NÃO FALOU COM ELAAAAA????

Restou-me respirar fundo com aquelas informações, pensei bem: Ela sabe que ela tem o poder pois está com meu processo em mãos e vai mandar para onde ela bem quiser e achar bonito, e é a única que aparentemente resolve as questões de pós-graduação nesse setor.. Olha só, levei dois anos e meio para dar entrada nisso, se o processo vai passear mais por conta da estreiteza mental, nesse determinado assunto, da funcionária em questão, que seja assim então! Eu é que não vou dar atenção a quem quer ter poder, comigo não!! Quer botar o processo para passear? Que coloque...

-Muito obrigada viu Dona Liliane... tchau... (seguido, claro, de um sorriso cínico...)

Fui ao setor de Pós, contei o ocorrido, fui na pós da Faculdade de... e relatei o fato, disseram para que eu não me preocupasse, assim que chegar elas pensarão: quem enviou esse processo para o lugar errado? E encaminharão imediatamente para a Câmara de...  (Na verdade quando chegou teve que esperar para passar mais uma vez pela reunião de colegiado da Pós de..., que acontece uma vez no mês - e a última tinha acontecido quatro dias atrás - até que entenderam que tinham que encaminhar para a Câmara de... pois eles não podiam resolver aquela questão...) É, rapadura é doce mas não é mole não, mestrado é a mesma coisa...

No final percebi que o tal do prédio novíssimooooo, de vidros espelhados, continuava com alguns funcionários que ainda acham que funcionário público tem que dificultar a vida do outro o máximo que puder e ainda quer ter o "poder", ainda que pequeno, por vezes, em suas mãos, para machucar o outro... Vá de retro!!!!... Com alguns funcionários e estruturas poderíamos ter uma universidade pra lá de nova... mas... tsc tsc... Fico apenas pensando se adianta a universidade ser nova, a viola ser bela, e o pensamento e a forma de encaminhar as questões ainda serem bolorentas? Questões filosóficas que acredito que só a Burra Cracia poderá responder...

domingo, 7 de março de 2010

A Cuca vai pegar: Crônicas do funcionalismo público I ou do buraco da sala de aula...

-Alô! Oi, boa tarde Seu Jonas, olha só, eu tenho problemas com a sala em que dou aula, primeiro eu tenho uma disciplina que acontece terça e quinta pela manhã, e vocês me colocaram terça numa sala e quinta em outra...
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Ele logo me interrompe...
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-Professora, todos os professores estão na mesma situação e ninguém reclama!
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Respiro fundo, tento argumentar... 
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-Olha Seu Jonas, sala de aula, para mim, é um espaço onde professor e estudantes vão passar todo um semestre, então a gente cria ali o nosso espaço de compartilhamento, cada um acaba tendo seu lugar mais confortável, lado de sala, é muito mais que um espaço físico, etc...
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-Professora, imagina se eu for fazer isso com todo mundo?
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Pois é, penso eu, imagina se ele vai se dar ao trabalho de perceber que as disciplinas que tem aula em dias diferentes poderiam ficar na mesma sala, pior foi ver que tinha sala sobrando quando a pessoa responsável pela organização das salas fez a distribuição, mas começo a perceber que ele nem sequer sabe o que é uma "sala de aula", e ainda que eu apelasse para Marc Augè e o seu lugar e não-lugar, ia adiantar...
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-Olha Seu Jonas, a sala de terça-feira é complicada, vocês adaptaram uma sala de professores, e enquanto estou em aula escuto toda a conversa da sala da administração, daí tenho que gritar para ser ouvida pelos alunos e vou acabar o semestre sem voz, não tem condições de dar aula assim, pois o tempo todo chegam pessoas para pedir informações, resolver problemas, e infelizmente interfere na dinâmica da minha aula... Eu sei que foi uma emergência, mas não tem condições...
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-Olha professora, a senhora fica reclamando, mas vem um monte de professor aqui me pedir um buraco qualquer para dar aula, e ficam felizes se conseguem...
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Diante do "buraco qualquer" já não escuto mais nada... Minha cabeça gira entre Reuni e a novidade da Universidade Nova... Entre dinheiro em meia, cueca, altos salários e regalias de quem 'habita' as torres gêmeas e as cuias de sentido oposto...  E os professores e estudantes da Universidade estão felizes com um "buraco qualquer" como sala de aula... Cruz credo! Desligo o telefone e começo a perceber que o "buraco" da educação vai ficando é cada vez mais embaixo...

segunda-feira, 1 de março de 2010

Viagens... lugares... - Estação do Peru - Buenos Aires - Argentina


Dia de ir embora, eu tinha uma manhã para rodar tudo e fazer as últimas compras, um lugar não me saía da cabeça: a primeira estação de metrô da América Latina. Eu tinha que ir. Queria muito ver. Fica no início (ou final) da Av Mayo (lugar em que eu estava hospedada), na Praça da Casa Rosada. Desci as escadas e de repente me vi em outro tempo, como se a escada fosse um túnel que nos transportasse para outro tempo, ambiente, sei lá... A minha sensação era de estar nos filmes de faroeste que eu assistia quando criança... Nos trens antigos... Mas aquele era um metrô de 1913, com uma estação que eu acredito que continua em 1913... Enquanto esperava os olhos estavam atentos aos detalhes de madeira, a bilheteria... E o trem chegou, ou melhor,  o metrô, de madeira, com luminárias antigas e janelas abertas... Entrei, me imaginei com um longo vestido de tom claro, pequenos babados delicados, preso com um belo broche, sombrinha na mão, fazenddo uma longa viagem (duas paradas...) e indo ao encontro do mocinho que me esperava no final... E no final, cinco minutos depois de ter entrado no metrô, subi a escada e caí novamente no século XXI, e toda a sua "modernidade"... O amado? É ruim de alguém estar à minha espera... Fui pro hotel pegar as malas... A viagem no tempo foi perfeita para o fim do tour em Buenos Aires...

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Saint-Valentin!

 

Há dois anos atrás descobri que o amor podia ser branco, e que podia ser de um azul intenso que apesar do frio, era quente. Descobri que o amor estava por ali, nos lugares escondidos nos mapas. O amor estava nas ruas, patinado em lagos congelados, prateando telhados, brincando de esconde-esconde, tingindo de vermelho supermercados, despencando em forma de estrelas, fazendo cócegas no nariz, adoçando o paladar em forma gelada ou quente de baunilha francesa, despejando seu encantamento nas estruturas sólidas das cidades... O amor me pegou de surpresa, com neve e desacertos certos. Com pressa me atirou às pessoas, aos lugares, às aventuras... Me fez falar línguas que eu não sabia... Há dois anos atrás, num dia de Saint-Valentin, manhã fria e azul, branca e feliz em todos os flocos, o amor me tomou de assalto... A falta de ar, o coração que se agita, os olhos que não param, as palavras que se atrapalham, a cara de boba... E quem se importa? O amor é construido por pequenas besteiras...

Foto: Detalhe do Musée des Beaux-arts de Montréal, 2008, février, après Saint-Valentin

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Crônica de eu...



Era ela mais uma vez. Sempre essa estranha dentro de mim, eu, a outra, tudo na mesma casca. Ela sempre volta quando menos preciso, quando começo a me reerguer ela vem, imperiosa, reclamar seu lugar. E como ela é forte...
Chegou e eu nem percebi, quando me dei conta já estava instalada. Atirou meus planos pela janela, e me atirou mais uma vez no vazio, a pensar que eu nada sou. Por que ela sente prazer com isso? E o que é mais intrigante neste sadismo, é que ela, ela sou eu...