sábado, 1 de setembro de 2012

Desse doloroso e doce processo de criação...



O primeiro traço, o primeiro passo, a primeira cor, a primeira letra, a primeira palavra... Todo o início da criação é confuso, estranho, uma mistura de vontade de fazer e medo de errar. A tela em branco, o ecrã em cinza, a página em branco, parecem zombar do momento em que se titubeia: pensa, leva a mão mais uma vez às teclas, ao pincel, à cor, ao botão disparador, a agonia, o êxtase, o prazer, a dor de quebrar o espaço vazio. Qual a razão de desprender-se de tudo e jogar-se ao desconhecido? As frases tomam outro rumo, as cores se espalham alheias ao que foi pensado, o enquadramento não é o mesmo que se viu no ecrã. A cabeça custa a se adaptar ao que, no seu perfeccionismo, não imaginou.

O início de tudo, tudo sempre cheio de emoções antagônicas, porém, nada supera o fim do primeiro traço, o fim do primeiro passo, a pintura da primeira cor, a escrita da primeira letra, o fim da primeira palavra. O espaço vazio maculado: não existe retorno uma vez que se toma a decisão de seguir. Ainda que se apaguem as letras o pensamento registrou a palavra, a letra, os olhos tatuaram a imagem e a tela já se impregnou com a cor. Ainda assim, olha, re-olha, pensa, pára, avança, resolve chegar ao fim do que se começou. O medo? Dissolve-se nas ações que vão se tornando cúmplice das ideias que a mente imaginou. Como quem não quer nada, a entrega ao processo de criação impregna, com sua presença, todo o momento delicioso do fazer.



*Foto: Ana Paula Albuquerque - Detalhe da obra O início do terceiro mundo - de Henrique Oliveira

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