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sábado, 1 de setembro de 2012

Desse doloroso e doce processo de criação...



O primeiro traço, o primeiro passo, a primeira cor, a primeira letra, a primeira palavra... Todo o início da criação é confuso, estranho, uma mistura de vontade de fazer e medo de errar. A tela em branco, o ecrã em cinza, a página em branco, parecem zombar do momento em que se titubeia: pensa, leva a mão mais uma vez às teclas, ao pincel, à cor, ao botão disparador, a agonia, o êxtase, o prazer, a dor de quebrar o espaço vazio. Qual a razão de desprender-se de tudo e jogar-se ao desconhecido? As frases tomam outro rumo, as cores se espalham alheias ao que foi pensado, o enquadramento não é o mesmo que se viu no ecrã. A cabeça custa a se adaptar ao que, no seu perfeccionismo, não imaginou.

O início de tudo, tudo sempre cheio de emoções antagônicas, porém, nada supera o fim do primeiro traço, o fim do primeiro passo, a pintura da primeira cor, a escrita da primeira letra, o fim da primeira palavra. O espaço vazio maculado: não existe retorno uma vez que se toma a decisão de seguir. Ainda que se apaguem as letras o pensamento registrou a palavra, a letra, os olhos tatuaram a imagem e a tela já se impregnou com a cor. Ainda assim, olha, re-olha, pensa, pára, avança, resolve chegar ao fim do que se começou. O medo? Dissolve-se nas ações que vão se tornando cúmplice das ideias que a mente imaginou. Como quem não quer nada, a entrega ao processo de criação impregna, com sua presença, todo o momento delicioso do fazer.



*Foto: Ana Paula Albuquerque - Detalhe da obra O início do terceiro mundo - de Henrique Oliveira

domingo, 24 de abril de 2011

Without blue moon...


"Blue moon, you saw me standing alone
Without a dream in my heart
Without a love of my own"*

   Assim a música vai tomando o corpo, célula a célula. A tristeza invade mais uma vez a vida. Tristeza dói e se preenche com lembranças, pensamentos, fotografias, textos, diálogos, decisões e compõe um mosaico assimétrico, um tantinho descombinado entre um tantinho exagerado em apenas alguns dos lados... e então a tristeza vai se delineando, se aprofundando, se colando ao cotidiano. Tristeza chega em silêncio e grita, vira a vida, coloca em cheque as possibilidades de felicidade. E assim, convive-se com ela como se convive com uma unha sem forma, um quilinho a mais na barriga, ou mesmo com a cor da pele, a cor dos olhos, a cor do cabelo, a batida do coração, o ar que enche o pulmão... Mas tristeza , tristeza tem seus caprichos, tristeza tem que ter trilha sonora, tem que ter ambientação, tem que ter gosto. Tristeza que se preza não deixa a pessoa só na cama, não, tristeza deixa gosto de chocolate quente, café um pouco amargo com pequeno gosto de sequilhos de paciência. Tristeza tem certo charme, certa cor, certa forma... Tristeza tem tom, nuance, perspectivas... E tem até melancolias, bucolismos entre outras iguarias de instropecções...
   Tristeza tem seu tempo, seu ciclo, e a minha tristeza, dessa vez, elegeu como trilha sonora uma voz rouca e forte, que me invadiu em tom de blues num dia em que eu me sentia mais blue ainda. Billie Holliday cantando Blue Moon, me fez, antes de mais nada, dançar com a tristeza. Entre rodopios descompassados, tomo a voz de Lady Day como cúmplice dos meus sentimentos: canto com ela... Me preencho da sua voz acompanhando essa música, e como gosto! Ela parece adivinhar pela letra da canção, que a lua me viu só, sem um sonho em meu coração ou mesmo um amor em mim... Mas parece adivinhar que o ritmo dessa ausência deve ser leve, brincante como os dedos no piano ao fundo, como o sax entre as palavras, como as palavras pronunciadas com sensualidade e leveza.. E lá vamos eu e minha trsiteza, sem um sonho para colorir, um lugar certo para ir, um certo embaraço para seguir em frente... Dias de tristeza são melancólicos assim... "Blue moon, you knew just what I was there for/ You heard me saying a prayer for / Someone I really could care for..."
   Faço chá inglês, com leite, um pouco de açúcar, da janela busco a lua azul, sem sucesso, esse não é o ano certo dela aparecer. Percebo que ao meu lado nenhum sussurro de "please, adore me", e assim, sigo pela noite com a lua amarela e pálida a me iluminar, e Billie a cantar sua canção: "Blue moon, now I'm no longer alone/ without a dream in my heart/ without a love of my own..."

*Blue Monn: Words By Lorenz Hart, Music By Richard Rodgers - Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/Blue_Moon_%28song%29
**Photo by Ana Paula Albuquerque

sábado, 1 de janeiro de 2011

De novo ao novo...


 Importa fazer as pessoas felizes,
Importa se fazer feliz
Importa deixar um gosto bom de
estações do ano.
Importa viver a vida, brincar com ela,
Flertar com as possibilidades que se apresentam.
Importa saber curtir com o que se tem
e inventar a vida em possíveis instantes
como canção
ou como histórias criadas para criança dormir.
Importa viver, amar, e nada mais..

 Foto: Detalhe de pintura de Alexandre Cabanel in Metropolitan Museum New York

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Can't take my eyes off of you*



Ela ouviu a canção com certa melancolia... You're just to good to be true / can't take my eyes off of you...    Ela sorriu com a mais calma tristeza... Quando tudo é muito bom para ser verdade, é porque não é, não é mesmo? ... You'd be like heaven to touch / I wanna hold you so much / At long last love has arrived / And I thank God for alive... Tudo é lindo demais para ser verdade, e, lindo demais, vem sempre com as palavras: estranho demais... Mas quem disse que ela conseguia tirar os olhos dele? Mas desde quando ela acreditava em contos de fadas?
Dois martinis, um cigarro, a paisagem ia se desvanecendo... Uma cerveja, ela ri sem graça, essa era a cerveja que ele gostava... os olhos molhados a denunciavam... ela o amava? Em segundos tudo rodava em volta dela, e tudo rodava dentro dela... Quem era ela?... Onde ele estava?... Pardon the way that I stare / There's nothing else to compare / The sight of you leaves me weak / There are no words left to speak... Ela não falou,  ela não quis falar metade das palavras que teria para dizer a ele... Por um segundo, achou tê-lo visto ao longe... Talvez não... Será que ele ainda sentia a mesma coisa? Ela nunca poderia saber, a única certeza  é que  sua mente não conseguia tirar os olhos dele... E isso era até engraçado, embaraçoso, mas engraçado...  Mas eram mesmo as lembranças que seguiam embaraçadas...
Será isso a paixão? Resolveu seguir a canção... I love you baby and if it's quite all right / I need you baby to warm the lonely nights / I love you baby trust in me when I say... Ela olhou bem para dentro dela, em um desses momentos de mais pura lucidez e sabia que continuaria passando suas noites solitárias em sua própria companhia... Ela acreditou nele quando ele disse I love you baby, mas onde estava o  amor? No devaneio louco dos solitários, entendeu que não poderia esquecê-lo... E entendeu também que ninguém além dela o criou em sua imaginação, ele era apenas produto de uma insana solidão... And let me love you baby, let me love you...
Ela terminou a cerveja, e voltou para os afazeres de sua vida... E a trilha sonora daquele momento continuava em seu pensamento... can't take my eyes of off you...

*Música de Frankie Valle and The four seasons
  Foto: Detalhe de O girassol de Van Gogh - Metroplitan Museum New York

Uma vez bandeirante... Sempre bandeirante...



As 15 anos me inscrevi no Movimento Bandeirante, pois amava a possibilidade de usar as meias que iam até o joelho! Desejo não satisfeito, pois grupos que funcionam em cidades tão quentes usam a meia soquete...  Argh! Que desilusão! Mas nem por isso desisti... Passei muitos anos da minha vida envolvida com o movimento, participando de um grupo de adolescentes, coordenando, por anos, um grupo de adolescentes! Hoje, distante, me pego lembrando o 'dia do pensamento' nesse 13 de agosto! Ora, uma vez bandeirante, sempre bandeirante!! Sempre ouvi essa frase e achei que estivesse bem distante de mim, mal sabia que um dia seria umas dessas pessoas com saudades de alguns tempos felizes!
O fato é que depois de certos anos, somos levados a pensar nas coisas boas que nos acontecem quando participamos de tais coisas, e deixamos as coisas de gosto ácido e amargo em um cantinho que não deve ser resgatado pelas lembranças em estado puro. Então, nesse Dia do Pensamento, dia em que estou distante, me lembro dos fogos de conselho, das promessas feitas em redor do fogo, das histórias inventadas e das que aconteciam naquele espaço de comunhão. Fogo, elemento vivo que aquece os corações e cria simbolismos vários... Quantas paixões em volta do fogo? Quantas canções? Quantas descobertas de novos sabores e formas de vida... O fogo, esse elemento exótico que marca uns dos avanços de nossa existência para a vida nômade e sobrevivência, me deixa hoje marcas de saudades boas, que me embalam e me fazem pensar em quem sou pelo que eu vivi em sua volta!

Semper Parata!! (pois uma vez bandeirante, sempre bandeirante!)

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Curta história de um romance que se delineia com o sete...


 Ela teve uma festa de aniversário de sete anos, um bolo gostoso e poucos amigos, parabéns com velinha a apagar. Ele nasceu no outro dia, chorava muito e era vermelho como todos os bebês que acabam de vir ao mundo. Ela tinha terminado a alfabetização e ia para um novo colégio. Ele era o mais novo de uma família de três mulheres. Eles tinham nascido na primavera...
Cresceram na mesma cidade, mas nunca se encontraram, cada um seguiu seu rumo em diferentes décadas de descobertas infanto-juvenis. Ela lia livros nas horas vagas. Ele vivia a trocar de camisas para ir às festas. Ela entrou na faculdade. Ele sempre tentava arranjar um jeito de sair da escola. Ela não faltava às aulas. Ele faltava aulas para jogar futebol. Ela namorou pouco. Ele namorou muito.  Ela era paquerada por homens mais velhos. Ele paquerava mulheres mais velhas. Ela conhecia a vida na teoria. Ele conhecia a vida na prática. Ela é sentimentalmente prática. Ele é sentimentalmente romântico. Ela fez uma dissertação. Ele fez um filho. Eles moraram quatro anos com alguém, eles se separaram de alguem, eles prosseguiram felizes com suas vidas...
No inevitável que sempre se esconde pelos dias que passam,  eles se encontraram num mês sete de um ano maior que isso, era verão acima da linha do equador. Ela passou sete dias na cidade. Ele  mora na cidade vizinha. Nesse dia, que passou de sete em data, mas que era sete na posição dos dias da semana, eles saíram para dançar. Ela deixou a cabeça no seu ombro. Ele segurou sua cintura. Ele a beijou. Ela correspondeu ao beijo. Ela não tinha os pés no chão. Ele tinha a cabeça nas nuvens. Eles descobriram, aos poucos, que havia uma primavera dentro deles enquanto bailavam como um casal de quase desconhecidos, mas já apaixonados.
A noite teimou em terminar. O dia chegou azul. Domingo de sol é dia de churrasco ou praia.  Domingo também termina depois de longos passeios. Domingo vem depois do sétimo dia da semana. Domingo é o primeiro dia da semana, mas pode ser o último dia de um encontro ou de uma viagem. Nas segundas-feiras muitas pessoas estão no aeroporto, muitos vôos partem levando pessoas para longe, para perto, separando e juntando casais apaixonados, amigos,  pais e mães e filhos, homens e mulheres de negócios. Aviões podem ser mágicos, pontes, abismos, espaços de convivência, aviões podem quase tudo. E eles? Eles criaram um romance no mundo mais terno de suas fantasias...

Nota: Picture:  sculpture at The Metropolitam Museum of Art - New York - EUA

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Saint-Valentin!

 

Há dois anos atrás descobri que o amor podia ser branco, e que podia ser de um azul intenso que apesar do frio, era quente. Descobri que o amor estava por ali, nos lugares escondidos nos mapas. O amor estava nas ruas, patinado em lagos congelados, prateando telhados, brincando de esconde-esconde, tingindo de vermelho supermercados, despencando em forma de estrelas, fazendo cócegas no nariz, adoçando o paladar em forma gelada ou quente de baunilha francesa, despejando seu encantamento nas estruturas sólidas das cidades... O amor me pegou de surpresa, com neve e desacertos certos. Com pressa me atirou às pessoas, aos lugares, às aventuras... Me fez falar línguas que eu não sabia... Há dois anos atrás, num dia de Saint-Valentin, manhã fria e azul, branca e feliz em todos os flocos, o amor me tomou de assalto... A falta de ar, o coração que se agita, os olhos que não param, as palavras que se atrapalham, a cara de boba... E quem se importa? O amor é construido por pequenas besteiras...

Foto: Detalhe do Musée des Beaux-arts de Montréal, 2008, février, après Saint-Valentin

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Crônica de eu...



Era ela mais uma vez. Sempre essa estranha dentro de mim, eu, a outra, tudo na mesma casca. Ela sempre volta quando menos preciso, quando começo a me reerguer ela vem, imperiosa, reclamar seu lugar. E como ela é forte...
Chegou e eu nem percebi, quando me dei conta já estava instalada. Atirou meus planos pela janela, e me atirou mais uma vez no vazio, a pensar que eu nada sou. Por que ela sente prazer com isso? E o que é mais intrigante neste sadismo, é que ela, ela sou eu...

domingo, 23 de novembro de 2008

Domingos...

Não sei, a cabeça roda perguntando o que fiz durante todo o dia... atravessei as horas sem perceber o que fazia, agora é tarde para voltar... Arrumei metade da mala para mais uma viagem: Crato me espera... Sei mais ou menos o que vou encontrar... e o domingo passa de bobeira...
Vi uma fotografia do deserto do sal, água na boca para ir... será que vai dar? Hoje estou tão estranha que não posso afirmar nada, talvez seja a proximidade de uma viagem, tanto tempo que não realizo uma. Medo ou desejo? Os dois, talvez... Domingo continua sendo um dia estranho... Segue então uma poesia que publiquei no meu rascunho e que vale a pena repetir:

Domingo

Dia de um cinza mórbido

Dia de uma alegria insólita

Em vão, alimento os pássaros

De longe, vejo o chumbo a se formar no horizonte

Drago as nuvens, e a chuva é meu choro

Dou ao arco-íris seu próprio tesouro

Aos meus pés, formigas passeiam

Não se dão conta da vida que passa,

Correm alheias aos traspassamentos temporais...

Guardo as migalhas no saco,

Amanhã serão outros pássaros?

Não sei...

A vida insiste em manter a graça...



E na graça vou seguindo no finzinho de meu domingo... e que as coisas melhorem ao dormir...

Ao menos não é uma véspera de segunda, mas foi domingo!

sábado, 15 de novembro de 2008

E se...

E se eu deixasse de existir continuaria aqui, e isso de certa forma me apavora... Minhas senhas perdidas, quem me tirará do "ar"? Essa eternização que precisa de energia para se manter viva, então eu realmente poderia deixar de existir... Minhas fotos digitais jamais serão vistas e todos os meus textos que trafegam somente na internet... Isso me acalenta... ou será que não?... Sei que continuarei aparecendo nos orkuts de meus amigos até todos eles partirem... mas ainda assim aparecerei no orkut dos filhos de meus amigos se eles não apagarem meus amigos... Estarei nos e-mails impressos e ns fotos que alguns mandaram reproduzir, eu que nunca revelo nada, nenhuma... Ai, essa concessão que temos de ser eternos...