sábado, 1 de janeiro de 2011

De novo ao novo...


 Importa fazer as pessoas felizes,
Importa se fazer feliz
Importa deixar um gosto bom de
estações do ano.
Importa viver a vida, brincar com ela,
Flertar com as possibilidades que se apresentam.
Importa saber curtir com o que se tem
e inventar a vida em possíveis instantes
como canção
ou como histórias criadas para criança dormir.
Importa viver, amar, e nada mais..

 Foto: Detalhe de pintura de Alexandre Cabanel in Metropolitan Museum New York

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Crônicas cotidianas... Ou o ladrão de poesias...


Uma tarde de sol numa rua paralela à rua do mar, lá ia Lôla dirigindo, tranquila, em direção a um tal de mini-sarau com adolescentes de algumas escolas públicas de um tal Estado. Apesar de alguma pressa,  o sinal vermelho a obrigou a parar e dar passagem aos pedestres. Ainda distraída, pensando em coisas do seu cotidiano, mas atenta no mudar das cores do semáforo, Lôla foi abruptamente acordada da sua introspecção com um enorme barulho, em frações de segundos se deu conta da janela quebrada no seu carro e imediatamente gritou. Tudo aconteceu tão ao mesmo tempo, que dificilmente se contaria os poucos milésimos de segundos entre uma ação e outra. O ladrão tinha que agir rápido: enfiou o braço com toda força e tocou na caixa que repousava no banco da frente do carro. Lôla gritou, ainda processando pouco o acontecimento: "-É apenas uma caixa! - São poesias!" Isso dito, não afetou o desejo do ladrão pela caixa, e que sejam poesias, o importante é o roubo !

A luz verde iluminou os olhos de Lôla, imediatamente ela deu partida no carro, o corpo do ladrão foi deixado para trás, mas a sua mão ainda ajudou a tampa da caixa a se aproveitar da situação e abri-se para derramar poesias por todo o carro, a janela aberta fez com que elas bailassem da frente ao fundo do veículo. Elas estavam livres, e poesias em liberdade ninguém segura. Quem mandou Lili trancá-las na caixa e colocá-las para passear com Lôla? Estavam, por força do roubo, soltas, eram palavras ao vento, farfalhantes e contentes, e na sua alegria de liberdade fizeram barulho o quanto puderam. Doces e peraltas as tais poesias, e ainda não estando na cena, eu poderia jurar que estavam felizes com o inesperado assalto. Foi a festa, festa das palavras e frases de métricas, rimas, sensações... Teria ficado alguma poesia nas mãos do ladrão?  Teria ele percebido o tamanho do seu roubo? Teria uma das poesias voado para fora e caído nas mãos de alguém que precisava ouvir certas palavras naquele momento? Teria o ladrão se encantado com a poesia que a sua mão sorteou? Estaria ele de mãos vazias? Ladrão que rouba poesia, quem diria? 

Chegando ao local do tal do sarau, uma Lôla ainda assustada e uma Lili preocupada, recolheram as safadinhas buliçosas e as encaixotaram de novo (para logo mais serem libertadas e declamadas pelos adolescentes). Eis uma de muitas verdades: poesia tem vontade própria e aí de quem as segure (ou tente deixá-las tranquilas nas caixas, mofadas em livros, trancadas em gavetas - Poesias não são tranquilas! Não se iludam com sua forma por vezes serena e doce, por vezes ingênua, no enviesamento das palavras, nas metáforas, nas metonímias... poesias são palavras intranquilas que querem ser lidas, compartilhadas, partidas, repetidas... querem estar vivas)

Mas a vida sempre retoma o seu trânsito normal: o mini-sarau chegou ao seu fim, Lôla devolveu a caixa de poesias de Lili, se recuperou do susto da invasão de seu veículo, consertou a janela do carro... Mas, dizem por aí, que algumas letras que se soltaram das poesias voadoras que descansavam na caixa colorida, passeiam sorrateiras e felizes pelo carro de Lôla à espera de alguém que as transformem em outras poesias...

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Crônicas cotidianas... Ou sobre mocinhos-bandidos e o sexo na cidade


   O burburinho do lugar era maior que o calor daquele início de tarde de sol e céu claro no Mercado Central de São Paulo. Resolvemos almoçar o sanduíche de mortadela que Gabi tanto nos falou enquanto fazíamos a programação dos quatro intensos dias na capital paulista.
   Ao que parece, parte da cidade teve a mesma idéia e achar uma mesa para o lunch foi tarefa das mais desagradáveis: com olhar de cachorro faminto, observamos e rondamos as mesas de pessoas que aparentemente estavam prestes a terminar suas refeições. Por vezes mais de um grupo rondava a mesma mesa. O mercado, essa hora, tem essa dinâmica, me afirmou uma assídua frequentadora, e todos já estão acostumados a comer com alguém te olhando e querendo o seu lugar e a ficar rondando mesa alheia... Nem esperam que as pessoas saiam, já sentam e garantem o seu lugar ao sol, ou melhor, à mesa!
   Meia hora de "caça" e sentamos para degustar o sanduíche, o cansaço nos deixou sem fala, até que de repente Lu rasga o vazio com uma voz de revolta: Galera, vocês não sabem o que eu estou ouvindo aqui!!! Não tô nem acreditando!! A curiosidade das três mulheres à mesa ficou aguçada... Ela faz ar de revolta e encorpa a voz para denunciar a conversa, inevitavelmente ouvida, e vinda da mesa ao lado onde três homens de quarenta, ou para mais disso, conversam ao sabor do chope: "-Mulher a gente tem que tratar bem para poder enfiar gostoso!" A frase dita por Lu nos deixa com a mesma cara de revolta que a dela, misturada a uma cara de "não acredito que eles tão conversando isso aqui no mercado nessas mesas coladinhas"... Seria exagerada a nossa censura? A conversa sobre sexo e mulher nos fez discutir sobre as condições das mulheres solteiras e dos homens cretinos que elas têm que aguentar por falta de homens gentis no mercado dos relacionamentos. Esses tipos do lado, certamente não seriam menos cretinos que os que nós conhecíamos, e nesse vasto mundo há muitos que não são Raimundos* e ainda os que são, não passariam de uma rima e, certamente, não seriam uma solução para as frases bárbaras que as solteiras tem que ouvir em seus encontros amorosos. Cansada desse tema sem fim, já não queria mais saber sobre a conversa desses rapazes, que tomem seus chopes e conversem sobre o que bem entenderem, não temos nada a ver com isso mesmo.
   A mudança de conversa só durou alguns segundos, pois Lu, colada inevitavelmente na mesa dos rapazes, se enfureceu mais uma vez: Gente, tem dó, agora eles estão falando das esposas e o cara tem coragem de dizer "que a Lu demora muito de gozar"... Eu não demoro não!!! Rimos muito! Agora Lu ficou sensibilizada com a sua homônima (ao menos no apelido) e resolveu tomar partido da história. Mais uma vez retomamos a conversa sobre sexo e as mulheres, dessa vez com ênfase sobre homens casados e cretinos (esses se proliferam tal qual gremlins**), pensamos em como Lu se sentiria sabendo das confissões públicas de seu marido (talvez nem sentisse nada). O fato é que enquanto nos divertíamos com a vida privada que se tornava pública, três esposas, com seus cabelos compridos e bem tratados, jovens, bonitas, em roupas harmonizadas sentavam à mesa. De dentro dos sacos vimos surgir uma girafa engraçada de pelúcia, roupinha de criança, um utensílio doméstico. As doces esposas mostravam suas compras aos maridos carinhosos e atenciosos que passaram seu tempo a esperá-las no Mercado Central.
   Olhamos uma para as outras, curiosas por saber:  quem era a Lu? Não tivemos sucesso na busca. Mas a nossa Lu ainda está engasgada para dizer a Lu esposa que quando ela estiver transando com seu marido pense em outro que ela consegue gozar mais rápido, pois pela cara e fala dele devia ser realmente difícil chegar ao ápice do prazer! Rimos pensando em tal cena, enquanto terminávamos o imenso sanduiche e nos deixávamos entreter pela preguiça morna do pós-lunch.
   Mas para turistas, todo tempo é precioso para andar pela cidade... Batemos em retirada e deixamos espaço para os outros caçadores de mesa do local. Quanto a mesa do lado? Começaram a chegar os sogros e sogras, mães e pais e nós partimos antes que as crianças pudessem aparecer por ali também... Infelizmente, o problema do gozo da Lu vai ficar para uma outra oportunidade, por hora, a mesa se enche de histórias e relatos sobre as compras do mercado, os casais estão felizes em mais uma tarde juntos e bem casados. Quem sabe seja esse cinismo nas relações que mantenha tantos casais juntos? E quem sabe se a Lu não é feliz em seu gozo tardio? E quem sabe o marido dela não aprende um dia a entendê-la? As horas giram, as mesas giram, gira o dia, giramos nós pelas escadas e caímos nas ruas do centro de Sampa com mais histórias para lembrar...


*Referência ao poema Poema de sete faces de Carlos Drummond de Andrade 
** Gremlins - filme estadunidense em que uma criaturinha fofinha, uma vez molhada, se multiplicava em muitas criaturinhas malvadas.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Can't take my eyes off of you*



Ela ouviu a canção com certa melancolia... You're just to good to be true / can't take my eyes off of you...    Ela sorriu com a mais calma tristeza... Quando tudo é muito bom para ser verdade, é porque não é, não é mesmo? ... You'd be like heaven to touch / I wanna hold you so much / At long last love has arrived / And I thank God for alive... Tudo é lindo demais para ser verdade, e, lindo demais, vem sempre com as palavras: estranho demais... Mas quem disse que ela conseguia tirar os olhos dele? Mas desde quando ela acreditava em contos de fadas?
Dois martinis, um cigarro, a paisagem ia se desvanecendo... Uma cerveja, ela ri sem graça, essa era a cerveja que ele gostava... os olhos molhados a denunciavam... ela o amava? Em segundos tudo rodava em volta dela, e tudo rodava dentro dela... Quem era ela?... Onde ele estava?... Pardon the way that I stare / There's nothing else to compare / The sight of you leaves me weak / There are no words left to speak... Ela não falou,  ela não quis falar metade das palavras que teria para dizer a ele... Por um segundo, achou tê-lo visto ao longe... Talvez não... Será que ele ainda sentia a mesma coisa? Ela nunca poderia saber, a única certeza  é que  sua mente não conseguia tirar os olhos dele... E isso era até engraçado, embaraçoso, mas engraçado...  Mas eram mesmo as lembranças que seguiam embaraçadas...
Será isso a paixão? Resolveu seguir a canção... I love you baby and if it's quite all right / I need you baby to warm the lonely nights / I love you baby trust in me when I say... Ela olhou bem para dentro dela, em um desses momentos de mais pura lucidez e sabia que continuaria passando suas noites solitárias em sua própria companhia... Ela acreditou nele quando ele disse I love you baby, mas onde estava o  amor? No devaneio louco dos solitários, entendeu que não poderia esquecê-lo... E entendeu também que ninguém além dela o criou em sua imaginação, ele era apenas produto de uma insana solidão... And let me love you baby, let me love you...
Ela terminou a cerveja, e voltou para os afazeres de sua vida... E a trilha sonora daquele momento continuava em seu pensamento... can't take my eyes of off you...

*Música de Frankie Valle and The four seasons
  Foto: Detalhe de O girassol de Van Gogh - Metroplitan Museum New York

Uma vez bandeirante... Sempre bandeirante...



As 15 anos me inscrevi no Movimento Bandeirante, pois amava a possibilidade de usar as meias que iam até o joelho! Desejo não satisfeito, pois grupos que funcionam em cidades tão quentes usam a meia soquete...  Argh! Que desilusão! Mas nem por isso desisti... Passei muitos anos da minha vida envolvida com o movimento, participando de um grupo de adolescentes, coordenando, por anos, um grupo de adolescentes! Hoje, distante, me pego lembrando o 'dia do pensamento' nesse 13 de agosto! Ora, uma vez bandeirante, sempre bandeirante!! Sempre ouvi essa frase e achei que estivesse bem distante de mim, mal sabia que um dia seria umas dessas pessoas com saudades de alguns tempos felizes!
O fato é que depois de certos anos, somos levados a pensar nas coisas boas que nos acontecem quando participamos de tais coisas, e deixamos as coisas de gosto ácido e amargo em um cantinho que não deve ser resgatado pelas lembranças em estado puro. Então, nesse Dia do Pensamento, dia em que estou distante, me lembro dos fogos de conselho, das promessas feitas em redor do fogo, das histórias inventadas e das que aconteciam naquele espaço de comunhão. Fogo, elemento vivo que aquece os corações e cria simbolismos vários... Quantas paixões em volta do fogo? Quantas canções? Quantas descobertas de novos sabores e formas de vida... O fogo, esse elemento exótico que marca uns dos avanços de nossa existência para a vida nômade e sobrevivência, me deixa hoje marcas de saudades boas, que me embalam e me fazem pensar em quem sou pelo que eu vivi em sua volta!

Semper Parata!! (pois uma vez bandeirante, sempre bandeirante!)

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Curta história de um romance que se delineia com o sete...


 Ela teve uma festa de aniversário de sete anos, um bolo gostoso e poucos amigos, parabéns com velinha a apagar. Ele nasceu no outro dia, chorava muito e era vermelho como todos os bebês que acabam de vir ao mundo. Ela tinha terminado a alfabetização e ia para um novo colégio. Ele era o mais novo de uma família de três mulheres. Eles tinham nascido na primavera...
Cresceram na mesma cidade, mas nunca se encontraram, cada um seguiu seu rumo em diferentes décadas de descobertas infanto-juvenis. Ela lia livros nas horas vagas. Ele vivia a trocar de camisas para ir às festas. Ela entrou na faculdade. Ele sempre tentava arranjar um jeito de sair da escola. Ela não faltava às aulas. Ele faltava aulas para jogar futebol. Ela namorou pouco. Ele namorou muito.  Ela era paquerada por homens mais velhos. Ele paquerava mulheres mais velhas. Ela conhecia a vida na teoria. Ele conhecia a vida na prática. Ela é sentimentalmente prática. Ele é sentimentalmente romântico. Ela fez uma dissertação. Ele fez um filho. Eles moraram quatro anos com alguém, eles se separaram de alguem, eles prosseguiram felizes com suas vidas...
No inevitável que sempre se esconde pelos dias que passam,  eles se encontraram num mês sete de um ano maior que isso, era verão acima da linha do equador. Ela passou sete dias na cidade. Ele  mora na cidade vizinha. Nesse dia, que passou de sete em data, mas que era sete na posição dos dias da semana, eles saíram para dançar. Ela deixou a cabeça no seu ombro. Ele segurou sua cintura. Ele a beijou. Ela correspondeu ao beijo. Ela não tinha os pés no chão. Ele tinha a cabeça nas nuvens. Eles descobriram, aos poucos, que havia uma primavera dentro deles enquanto bailavam como um casal de quase desconhecidos, mas já apaixonados.
A noite teimou em terminar. O dia chegou azul. Domingo de sol é dia de churrasco ou praia.  Domingo também termina depois de longos passeios. Domingo vem depois do sétimo dia da semana. Domingo é o primeiro dia da semana, mas pode ser o último dia de um encontro ou de uma viagem. Nas segundas-feiras muitas pessoas estão no aeroporto, muitos vôos partem levando pessoas para longe, para perto, separando e juntando casais apaixonados, amigos,  pais e mães e filhos, homens e mulheres de negócios. Aviões podem ser mágicos, pontes, abismos, espaços de convivência, aviões podem quase tudo. E eles? Eles criaram um romance no mundo mais terno de suas fantasias...

Nota: Picture:  sculpture at The Metropolitam Museum of Art - New York - EUA

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Viagens... lugares... - Visita ao Pouso da Palavra - Cachoeira - Bahia - Brasil



Ir ao espaço cultural "Pouso da Palavra", ainda que sem o dono das palavras pousadas por ali, soou como um encontro com as poesias que por ali voavam (ou pousavam - não é possível saber ao certo se pousam ou se voam... há um movimento contínuo de voos e pousos e pousos e voos e assim as letras seguem a brincar com quem aí está). 

A casa amarela (como a flor de Arabela)* continha um poeta, ou talvez , o poeta continha uma casa amarela... disso também não se sabe... O certo é que era ali uma das moradas do poeta Damário da Cruz. A casa  localizada em Cachoeira e que não poderia ter melhor localização: de costas para o rio (uma quadra), em frente à praça do fórum, vê a vida desfilar frente à sua porta! 

Na ausência prematura do poeta (não seriam eternos, os poetas?), as coisas estão intactas, no escritório, o telefone continua fora do gancho... As fotos  e as poesias espalhadas pela casa fazem troça, fazem carinho, fazem alegria, fazem o riso, a ânsia, o desejo, o festejo, a surpresa para quem passa por eles... Uma frase, um olhar, uma imagem... a casa é um convite para recitar, ainda que baixinho, palavras-poesias... Transito entre santos e orixás, santa e revólver,  radiola e cd, o moderno e o antigo, o sagrado e o profano, o mar e a cidade,  a luz e penumbra se equilibram no pequeno espaço...  O sol se adona da entrada da porta... Cosme e Damião saboreiam com olhar feliz suas guloseimas... São Jorge no meio da sala lança seu olhar por todos os lados...  Salve Jorge!... O jardim verdejante esconde surpresas! A chuva torna as cores mais vivas... Meu pé molhado festeja a descoberta dos objetos escondidos pelo caminho... Os olhos buscam os sem fins de detalhes que a casa esconde... Por entre as coisas que nos rodeiam, algumas traz saudades de infância: um taximetro, disco vinil, calendário antigo.... A casa é caixa de surpresa (e caixa de poesia)...

Saimos, eu, Licinha, Regi, Dôra, Rose, Raquel e Ana como visitas que acabaram de estar com velho (ou novo) amigo! Tem-se a certeza de que há um centro de cultura cada vez mais a se fincar, e a tristeza de que no momento a vida poética está suspensa no ar... Que caminho esse pássaro tomará? Quem sabe Arabela possa regar tal qual a flor, a casa de mesma cor? Mas se "Cada pássaro sabe a rota do retorno / Cada pássaro sabe a rota de si / Cada pássaro na rota sabe-se pássaro" a casa sabe muito bem para onde ir...

E nós fomos embora encantadas com tantas palavras pousadas, com  tantas imagens capturadas, com tanta presença do poeta no Pouso onde a imaginação voa...

E com o "Gran Finale", que se estende pela fachada da casa e brinca ao vento, Damário nos deixa sua breve despedida da vida ("que só vale a vida"):

Avise aos amigos
Que preparo o
último verso

A vida dura
menos que um poema

E no alvorecer mais próximo
Saio de cena

Sim, ele saiu de cena, mas o cenário do poeta continua ali, em Cachoeira, quase como se nada tivesse acontecido (não fosse o vazio na mesa de trabalho e o silêncio no lugar)... já não falei que os poetas são eternos?!


*Refiro-me ao poema Flor Amarela de Cecília Meireles