domingo, 1 de agosto de 2010

A Cuca vai pegar: Crônicas de vendas ou sobre o problema dos débitos e créditos...

Carteira de estudante e cartão do banco nas mãos, depois de muitos minutos na fila do cinema, enfim consigo chegar ao momento da compra minutos antes do inicio do filme...
-Boa tarde, você me dá um ingresso de meia-entrada para o filme "tal", na sessão hs:hs, e eu vou pagar no cartão de DËBITO!?
- Desculpe senhora, não entendi?!
-Um ingresso de meia-entrada para o filme "tal", na sessão hs:hs, vou pagar com cartão de DËBITO
-Ah
Uns três toques no teclado e ele me pergunta:
-Senhora a compra vai ser no DËBITO ou no CRËDITO
Nesse momento cai por terra a minha certeza de que quando falo cartão de DËBITO, significa DËBITO! Três anos num curso de contabilidade e as certezas vão embora em segundos... A cuca pegou!...Tento manter distante um ar de ranzinza que chega nesse exato momento, olho sem graça, tento um sorriso e repito pela terceira vez, forçando mais os lábios:
- No DËBITO!

Viagens... lugares... - Os primeiros minutos naquele lugar... - Aeroporto JFK de NY - Estados Unidos da América


       
     Tan tan ranran ran... tantanranranran... tatatatataratata... New York... New York!!!!!!! O que fazer quando Frank Sinatra não sai da cabeça? Cantarolar!! Assim, desci do avião com mochila e malinha de rodinha rodopiando e cantando a música que anunciava uma chegada em cidade tão esperada!! Sim! Espalhem a notícia, eu estou chegando na cidade que nunca dorme!!!

Ali mesmo no JFK fui me perdendo por entre as pinturas das suas paredes que mostravam a cidade nas várias percepções dos artistas... E eu com uma felicidade incontida de estar na cidade em que eu só vivia pelos filmes, bebia as suas cores, sabores, odores, filtrava as pessoas, as estruturas, os aviões: eu queria registrar tudo com meus olhos bem abertos e contentes!... O trajeto até o resto da bagagem é longo, eu não ligo, quero ficar ali perambulando pelo aeroporto antes de ver a cidade... O aeroporto sempre nos traz a primeira impressão da cidade, ainda que seja sempre uma estrutura próxima de qualquer outro aeroporto de qualquer cidade, mas ao mesmo tempo cada um imprime seu charme e suas particularidades, o que o fazem ter personalidade...

O sobrinho de Marynha já nos aguardava e rapidamente nos levou para fora, e no trajeto de mais de meia hora até o hotel pude, gradativamente, chegar à cidade. Meus olhos não podiam conter o riso de saber que aquele era o meu filme. E foi isso NY do início a fim: um filme!  Romance, aventura, drama, comédia, ação... Foram muitos os gêneros vividos...  E se NY é uma grande maçã, posso dizer que a mordi com vontade, e pude aproveitar do seu caldo suculento e doce nos sete dias em que ali estive!

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Viagens... lugares... - Inconfidente em Ouro Preto - Minas Gerais - Brasil



Era janeiro, mas senti frio, a chuva caía noite afora deixando a névoa como presente para o amanhecer dos olhos e da cidade. Levei muito tempo salivando pelo momento de caminhar por onde muitos artistas que tenho afeto caminharam. De repente, estava ali com os sonhos que insistiam em gritar, o ônibus chegou tranquilo, do trajeto desde Juiz de Fora, fui traçando o caminho da Estrada Real e seus marcos que perpetuam a história da trilha. A placa com indicação de Itabira me perturbou, e Carlos suavemente preencheu meu pensamento de poesia. Não será dessa vez meu caro poeta que conhecerei sua terra tão apaixonadamente escrita e descrita por você. Isso me dói.

Mas a meta agora era outra, a parada era em outra promessa de tenra juventude, e assim, chego à cidade desejada: Ouro Preto saía do papel e se materializava em minha frente. Tive alegria ao caminhar pelas ruas e ladeiras, olhar emocionada as suas igrejas, museus, construções grandes, imperiosas. Tudo era motivo de encanto: sair nas ruas era motivo de penetrar na história que eu acredito ainda estar ali, entranhada nas pedras pontiagudas das ruas. Caminhando sozinha pela noite, com lenço na cabeça para me proteger da chuva fina e frio, desci ladeiras e passeei por ruas vazias sendo escondida pela penumbra noturna, me senti uma inconfidente nas ruas de Ouro Preto. Ali, evoquei a força e amor de Marília e de Dirceu, a rebeldia e coragem de Joaquim José da Silva Xavier, a arte sublime de Antônio Francisco Lisboa... Pude sentir cada um deles e dos outros que andavam com eles. Entrar em cada casa da história de Minas, da história do Brasil, me fez sentir mais e mais presa a elas. Quatro dias de inconfidente e confidente de uma história de amor antiga: a adolescência sonhando com os versos de Dirceu, da juventude perdida nas formas barroca. Sim Dirceu, é certo que em relação a Ouro Preto, assim como na tão amada Marília, "em seu semblante / as graças moram...". Os chocolates acalentavam o frio e as pernas doloridas das ladeiras subidas. Fui embora no quarto dia, embriagada de inocentes sentidos resgatados de minha história, hora perdidos no caminho do presente, mas que ali, insistiam em me atirar no sonho que se concretizava.

E pedindo a Dirceu mais palavras, pois as minhas perdi pela paixão de ali estar, só posso dizer que  "Hoje em suspiros / o canto mudo: / Assim. Marília./ Se acaba tudo!"

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Viagens... lugares... - Amanhecer na Asa Norte - Brasília - Brasil


Acordando em Brasília, encharcada de cor-de-rosa, alaranjados e alguns azuis. Lembrei do meu pé na terra vermelha enquanto caminhava pelas ruas da cidade... Brasília tem tom quente do início ao fim do dia. No Rio Paranoá o dourado da luz se aninha, morada de minutos, tranquilo... Permito me perder pela imagem, início de dia assim é presente que se recebe com largo sorriso. Respiro e me sinto conectado a tudo! Me permito evocar Carlos, meu caríssimo poeta de todas as horas, e dizer entre suspiros: "Eita vida besta meu deus..."

sábado, 3 de abril de 2010

Viagens... lugares... - Malecon - Havana - Cuba

      
A noite cai aos poucos, é inverno, mas não se nota... o céu azul vai tomando os tons de rosa para si. Passeio com minha máquina fotográfica na ânsia de capturar todos os momentos possíveis,  a Avenida Malecon está cheia de pessoas, casais, crianças e pais, cubanos e turistas, todos passeiam ao seu pôr-do-sol. De repente, uma música vem de dentro de uma casa bonita, um conservatório? Não sei, mas a entrada é gratuita... É o final da apresentação e como se adivinhassem começam a tocar uma música brasileira: bossa nova! Me sinto distante, me sinto em casa, me sinto ali... A orquestra termina de tocar...

Saio por entre as pessoas que estavam na apresentação, volto ao Malecon, a noite, enfim, escureceu. Continuo o passeio pela velha Havana, com as casas antigas a me espreitar pela esquerda e o Malecon a me refrescar pela direita, só se sabe que é inverno por causa do mar agitado e de certo tom frio no vento... brinco de pega-pega com as ondas que escapam do muro... Há dias em que elas podem ser bastante violentas, banham as ruas da cidade... Do outro lado, casas mal conservadas apresentam seu charme, a cidade é romântica, é exótica, é poética, é melodiosa e é tudo ao mesmo tempo. 

O hotel é em frente ao Malecon e do quarto posso ver seu movimento, posso acordar com sua música e ver seus pescadores se jogarem ao acaso: seria dia de peixe? Vejo ao longe a alegria se espalhar pelas charretes que passam pela Avenida, pelos casais que andam de mãos dadas, pelos pais que passeiam com seus filhos,  pelos turistas que visitam Havana pela primeira, segunda, terceira ou mais vezes, e vejo a alegria se espalhar pela aprendiz de fotógrafa que tenta apreender na tela o fugaz...

sexta-feira, 2 de abril de 2010

A Cuca vai pegar: Crônicas do funcionalismo público II ou da Burra Cracia

Levei dois anos e meio para entregar a dissertação e dar entrada no diploma. Eu sei, isso é lamentável, assumo a ação terrível que é esse atraso! Mas então, os tais escritos ficaram, nas férias, esperando a reunião de colegiado, uma vez aceito, subiu para a Secretária G., para assim começar o processo de confecção do papelzinho que atestará a minha maestria (a questão é que em alguns lugares o tal do papel é mais importante que a competência...).
Um dia, estava tranquila em casa e recebi o telefonema da funcionária da Secretaria G. dizendo que havia um problema no meu processo e eu prontamente fui tentar entender e resolver. O prédio da Secretária G. é novíssimo, cheio de vidros espelhados, numa arquitetura antiga. Escolheram bem a cor e as formas e eu estava mesmo querendo entrar para ver como estavam as coisas por dentro... 

A simpática funcionária do setor de pós me explicou tintin por tintin a questão: é que eu passei um semestre a mais que o permitido e teria que, dois anos e meio depois e com todos os requisitos cumpridos, pedir a Câmara de... para aceitar a dilatação do prazo máximo regulamentar do tal do curso... Ufa...  Era algo aparentemente simples... Então vamos lá, saí por uma porta entrei em outra , ou seja, o setor de protocolo , para dar entrada na solicitação e anexar os mil papéis no processo... Senha 82... Ah, tá, está no 53... Sai, atravessei a rua, tirei xerox de outros documentos, subi as escadas e dei entrada no meu diploma de especialização depois de ter esperado mais três pessoas serem atendidas... Voltei pro Protocolo... Ah tá, faltam 15 pessoas... Sentar e esperar... esperar... esperar...

"Tantan" Aparece luminoso o número 82, é a minha vez... Explico o caso para a funcionária, em todos os detalhes...

- Eu não sei resolver isso não, vou passar para Liliana pois ela deve saber resolver, ela trabalhou com esses assuntos de pós-graduação...

Fui para Liliana, contei mais uma vez o que aconteceu e digo que tenho que fazer a solicitação à CÂMARA DE...

-Já estou vendo que tem mais um caso aqui para resolver, esses outros dois semestres têm que ser julgados pela pós-graduação da Faculdade de...

Olho os dois semestres e vejo que está lá, todo certinho, explico que isso já passou pela pós-graduação, que isso já está certo e que eu preciso, conforme disse a funcionária da pós-graduação, da faculdade de... e do setor de pós-graduação desta Secretaria G., ENCAMINHAR PARA A CÂMARA DE... Ela preenche rápido os papéis, do canto do olho eu vejo ela selecionar: FACULDADE DE ... Ai meu Deus!!!

-Pronto, esse é o número do processo e você pode acompanhar pelo site...

-Ahhh obrigada, você colocou para que seja encaminhada para a CÂMARA DE..., não foi????

-(ela respira) Claro que não, tem que ir para a Faculdade de..., ela que vai julgar e então o processo volta para o setor de pós-graduação...

-Senhora, a pós-graduação da Faculdade de... já julgou, enviou aqui para a Secretaria G., e a funcionária da Secretaria G. que cuida dos assuntos de pós-graduação, me disse que eu tenho que enviar para a CÂMARA DE... até a funcionária da pós da Faculdade de... me disse que o processo ia ter que passar pela CÂMARA DE... por conta da matrícula desse referido ano!

-OLHE SÓ, A FUNCIONÁRIA DAQUI DA SECRETARIA G., DO SETOR DE PÓS-GRADUAÇÃO, CUIDA APENAS DO REGISTRO... ELA NÃO SABE DESSES ENCAMINHAMENTOS!! NÃO É MESMO??? 

-Eu não sei...  só sei o que ela me disse...

-COMO NÃO SABE?????????? VOCÊ NÃO FALOU COM ELAAAAA????

Restou-me respirar fundo com aquelas informações, pensei bem: Ela sabe que ela tem o poder pois está com meu processo em mãos e vai mandar para onde ela bem quiser e achar bonito, e é a única que aparentemente resolve as questões de pós-graduação nesse setor.. Olha só, levei dois anos e meio para dar entrada nisso, se o processo vai passear mais por conta da estreiteza mental, nesse determinado assunto, da funcionária em questão, que seja assim então! Eu é que não vou dar atenção a quem quer ter poder, comigo não!! Quer botar o processo para passear? Que coloque...

-Muito obrigada viu Dona Liliane... tchau... (seguido, claro, de um sorriso cínico...)

Fui ao setor de Pós, contei o ocorrido, fui na pós da Faculdade de... e relatei o fato, disseram para que eu não me preocupasse, assim que chegar elas pensarão: quem enviou esse processo para o lugar errado? E encaminharão imediatamente para a Câmara de...  (Na verdade quando chegou teve que esperar para passar mais uma vez pela reunião de colegiado da Pós de..., que acontece uma vez no mês - e a última tinha acontecido quatro dias atrás - até que entenderam que tinham que encaminhar para a Câmara de... pois eles não podiam resolver aquela questão...) É, rapadura é doce mas não é mole não, mestrado é a mesma coisa...

No final percebi que o tal do prédio novíssimooooo, de vidros espelhados, continuava com alguns funcionários que ainda acham que funcionário público tem que dificultar a vida do outro o máximo que puder e ainda quer ter o "poder", ainda que pequeno, por vezes, em suas mãos, para machucar o outro... Vá de retro!!!!... Com alguns funcionários e estruturas poderíamos ter uma universidade pra lá de nova... mas... tsc tsc... Fico apenas pensando se adianta a universidade ser nova, a viola ser bela, e o pensamento e a forma de encaminhar as questões ainda serem bolorentas? Questões filosóficas que acredito que só a Burra Cracia poderá responder...

domingo, 7 de março de 2010

A Cuca vai pegar: Crônicas do funcionalismo público I ou do buraco da sala de aula...

-Alô! Oi, boa tarde Seu Jonas, olha só, eu tenho problemas com a sala em que dou aula, primeiro eu tenho uma disciplina que acontece terça e quinta pela manhã, e vocês me colocaram terça numa sala e quinta em outra...
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Ele logo me interrompe...
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-Professora, todos os professores estão na mesma situação e ninguém reclama!
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Respiro fundo, tento argumentar... 
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-Olha Seu Jonas, sala de aula, para mim, é um espaço onde professor e estudantes vão passar todo um semestre, então a gente cria ali o nosso espaço de compartilhamento, cada um acaba tendo seu lugar mais confortável, lado de sala, é muito mais que um espaço físico, etc...
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-Professora, imagina se eu for fazer isso com todo mundo?
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Pois é, penso eu, imagina se ele vai se dar ao trabalho de perceber que as disciplinas que tem aula em dias diferentes poderiam ficar na mesma sala, pior foi ver que tinha sala sobrando quando a pessoa responsável pela organização das salas fez a distribuição, mas começo a perceber que ele nem sequer sabe o que é uma "sala de aula", e ainda que eu apelasse para Marc Augè e o seu lugar e não-lugar, ia adiantar...
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-Olha Seu Jonas, a sala de terça-feira é complicada, vocês adaptaram uma sala de professores, e enquanto estou em aula escuto toda a conversa da sala da administração, daí tenho que gritar para ser ouvida pelos alunos e vou acabar o semestre sem voz, não tem condições de dar aula assim, pois o tempo todo chegam pessoas para pedir informações, resolver problemas, e infelizmente interfere na dinâmica da minha aula... Eu sei que foi uma emergência, mas não tem condições...
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-Olha professora, a senhora fica reclamando, mas vem um monte de professor aqui me pedir um buraco qualquer para dar aula, e ficam felizes se conseguem...
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Diante do "buraco qualquer" já não escuto mais nada... Minha cabeça gira entre Reuni e a novidade da Universidade Nova... Entre dinheiro em meia, cueca, altos salários e regalias de quem 'habita' as torres gêmeas e as cuias de sentido oposto...  E os professores e estudantes da Universidade estão felizes com um "buraco qualquer" como sala de aula... Cruz credo! Desligo o telefone e começo a perceber que o "buraco" da educação vai ficando é cada vez mais embaixo...