domingo, 24 de abril de 2011

Without blue moon...


"Blue moon, you saw me standing alone
Without a dream in my heart
Without a love of my own"*

   Assim a música vai tomando o corpo, célula a célula. A tristeza invade mais uma vez a vida. Tristeza dói e se preenche com lembranças, pensamentos, fotografias, textos, diálogos, decisões e compõe um mosaico assimétrico, um tantinho descombinado entre um tantinho exagerado em apenas alguns dos lados... e então a tristeza vai se delineando, se aprofundando, se colando ao cotidiano. Tristeza chega em silêncio e grita, vira a vida, coloca em cheque as possibilidades de felicidade. E assim, convive-se com ela como se convive com uma unha sem forma, um quilinho a mais na barriga, ou mesmo com a cor da pele, a cor dos olhos, a cor do cabelo, a batida do coração, o ar que enche o pulmão... Mas tristeza , tristeza tem seus caprichos, tristeza tem que ter trilha sonora, tem que ter ambientação, tem que ter gosto. Tristeza que se preza não deixa a pessoa só na cama, não, tristeza deixa gosto de chocolate quente, café um pouco amargo com pequeno gosto de sequilhos de paciência. Tristeza tem certo charme, certa cor, certa forma... Tristeza tem tom, nuance, perspectivas... E tem até melancolias, bucolismos entre outras iguarias de instropecções...
   Tristeza tem seu tempo, seu ciclo, e a minha tristeza, dessa vez, elegeu como trilha sonora uma voz rouca e forte, que me invadiu em tom de blues num dia em que eu me sentia mais blue ainda. Billie Holliday cantando Blue Moon, me fez, antes de mais nada, dançar com a tristeza. Entre rodopios descompassados, tomo a voz de Lady Day como cúmplice dos meus sentimentos: canto com ela... Me preencho da sua voz acompanhando essa música, e como gosto! Ela parece adivinhar pela letra da canção, que a lua me viu só, sem um sonho em meu coração ou mesmo um amor em mim... Mas parece adivinhar que o ritmo dessa ausência deve ser leve, brincante como os dedos no piano ao fundo, como o sax entre as palavras, como as palavras pronunciadas com sensualidade e leveza.. E lá vamos eu e minha trsiteza, sem um sonho para colorir, um lugar certo para ir, um certo embaraço para seguir em frente... Dias de tristeza são melancólicos assim... "Blue moon, you knew just what I was there for/ You heard me saying a prayer for / Someone I really could care for..."
   Faço chá inglês, com leite, um pouco de açúcar, da janela busco a lua azul, sem sucesso, esse não é o ano certo dela aparecer. Percebo que ao meu lado nenhum sussurro de "please, adore me", e assim, sigo pela noite com a lua amarela e pálida a me iluminar, e Billie a cantar sua canção: "Blue moon, now I'm no longer alone/ without a dream in my heart/ without a love of my own..."

*Blue Monn: Words By Lorenz Hart, Music By Richard Rodgers - Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/Blue_Moon_%28song%29
**Photo by Ana Paula Albuquerque

4 comentários:

Lucy in the sky... disse...

Amiga, sofrer em Londres é chique demais!!! "Ô" sofrimentosinho bom por demais...(kk)

Ana Paula Albuquerque disse...

ahhh... Tristeza é tristeza, aqui ou na China, em Londres, Paris ou Nova York... Em Feira de Santana ou Rio de Janeiro... Na Avenida Paulista, em Copacabana ou na Avenida Sete... Sempre vai doer...rs

Giselly Lima disse...

Sofrer com billie é um luxo. certas existencias ganham sentido assim, não acha? Falo dela e de sua "utilidade". texto delicioso.

Ana Paula Albuquerque disse...

Oi Gi, e só hoje, no dia de lua azul vejo seu comentário! Certamente, certas existencias ganham sentido assim, e eu adoro essa tristeza nostálgica, que me faz pensar na vida e seus múltiplos acontecimentos e me faz um pouco mais sabedora dos meus sentidos... Obrigada pelo cometário!