Cheguei muito cansada, acordei as quatro e meia da manhã para pegar o voo das dez para as seis de Salvador para Belo Horizonte. Depois de voar, fui ver a forma mais barata de chegar ao aeroporto: um onibus sem ar-condicionado mas bastante confortável que custa a metade do preço do outro e um décimo do preço do taxi de lá dos Confins até o centro da cidade. Uma vez no ponto final, rodoviária, peguei um taxi até o hotel (tudo ficou pelo preço do ônibus com ar-condicionado, e eu ainda parei na porta do hotel, sem necessidade de descer o ladeirão), aliás, é preciso dizer que Belô é uma cidade de muitas ladeiras, aliado a elas muito sol e um clima seco (que bela mistura, hein!?)... Cheguei no hotel as 11hs e tive que esperar até as 12hs em ponto para entrar no quarto (coisas do Formule 1). Dormi até 13hs30: a fome falou mais alto. A comodidade me fez atravessar a rua e almoçar no restaurante em frente, a comida é boa! Acabei de comer e... tchan tchan... a previsão do taxista naquela manhã banhada de sol estava certa: a chuva começou a desabar forte pelas ruas da cidade e eu, ilhada no restaurante... Uns 40 minutos depois, hora de fechar, mas o garçon me garantiu que eu podia ficar a vontade, eu estava inquieta, minha única tarde livre ia literalmente por água abaixo! Mas não é que o garçon conseguiu um guarda-chuva e atravessou a rua comigo até me deixar na livraria em frente!? Tenho que registrar que a maioria dos mineiros são bastante simpáticos e gentis. Mais uma hora esperando a tal da chuva, e nisso a tarde já ia embora sem nenhuma piedade da turista qua andava pela primeira vez por aquela cidade... Comprei um livro em inglês e outro em francês depois de garimpar os mais baratos, eu quase decorei todos os livro das prateleiras...
Cansei de esperar, a minha inquietação foi maior que o preço que paguei no cabelo para ficar um pouco mais ajeitadinho para a apresentação do meu trabalho no congresso de arte, saí na chuva, agora rala, por entre as raras marquises, correndo nas ruas, com um casaco na cabeça sendo olhada , por vezes, tal qual olham doidos de rua. Pouco me importava, eu queria chegar ao Mercado Central! Duas quadras e encontrei uma lojinha vendendo sombrinhas, que alegria: comprei imediatamente! E assim uma quadra protegida da chuva dei de cara com o mercado, entrei atônita... Quantos cheiros, quantas cores, quanta variedade! Aquilo era uma festa para os sentidos!
Passei e saborei cada cor, cada cheiro (tirando claro, a parte que vende aves... pratiquei a ausência do cheiro), cada objeto, cada pequeno detalhe... Nunca vi um mercado tão completo: grãos, aves, laticinios, salão de beleza, produtos árabes, japoneses, lembranças, panelas, fitas e tecidos, biscoitos., banco.. enfim, tudo o que o que se pode precisar, encontra-se lá! Um andar e meio e saídas para várias ruas... As ruas da cidade, tenho que deixar meu protesto, foram projetadas para a gente se perder entre diagonais que cruzam as horizontais e verticais perpendiculares. Nossa, dei voltas e voltas com mapa na mão, entro, saio e me perco. E me perder foi adorável lá no mercado, comprei bolotas de chocolate rechedas com cereja e damasco e me diverti por entre as lojas, de um lado a outro, centro, sobe, desce, desentristesse... Fui embora satisfeita com o passeio... A chuva? Passou!... Quase volto para pegar o dinheiro da sombrinha de volta, mas vai que volta a chover? Depois de comprar meu jantar no "Super nosso" (eu adorei o nome!) voltei para o hotel analisando o dia...
Mas eu só descobriria mais tarde, depois de odiar a cidade nos dois primeiros dias, que Belo Horizonte é uma cidade que a gente vai amando aos poucos... Voltei com saudades das linhas e curvas de Niemeyer, da cachaça no bar da esquina, da poesia e prosa no ônibus, da feira do Palácio das Artes, dos museus, do Palácio das Artes, de andar pelas ruas de Savassi, e de muitas outras coisas escondidas entre os emaranhados das ruas planejadas da cidade...
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